segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Gaveta empoeirada.

Estava lá, mas eu não percebia. Talvez porque abria as gavetas erradas, deixava as caixas brancas por último, e aí esquecia de abrí-las no dia seguinte. Sempre fui de ir nos mesmos lugares, olhar para os mesmos cantos, apreciar as mesmas paisagens. Comecei a achar tudo muito monótono, seco, sem vida. Esqueci, toquei a vida. Fui atrás de dinheiro, diversão e bebida barata. Ganhei alguns kilos, poucos momentos felizes, e uma lista interminável de pessoas que eu nunca gostaria de ter conhecido. Não estava lá, nunca esteve. Tentei fazer alguns felizes, me apunhalaram. Tentaram me mostrar o amor, eu parecia despreparado, ou com medo, não sei definir. Tantos preços, choros, soluções, olhos inchados. A cabeça doía, o coração estava cansado, eram tantos cacos a serem recolhidos, tantas dobras a serem desfeitas. Era tanto trabalho a ser feito. Estava quase desistindo, dando o braço a torcer. Em um dia desses - assim, inusitado - necessitava de molho de tomate (o dia em que eu usei esse molho foi bem estranho, mas isso é uma outra história) e saí para comprar. Mesmo sabendo que iria me deparar com várias pessoas no supermercado, coloquei minha camiseta mais vagabunda, qualquer bermuda, chinelo velho, cabelo desgrenhado. Coisa que nunca tinha feito, coisa que minha vaidade nunca tinha me permitido. Mas se seria um dia como os outros, por que? Por que tentar parecer bonito para ninguém? E foi procurando por uma coisa, que encontrei outra. Quem diria, não é mesmo? Logo naquele dia, logo quando não havia esperança, nenhum medo de ficar sozinho. É quando menos se procura, que nós achamos. Quem nunca foi atrás de uma caneta, e achou uma moeda de cinquenta centavos? É assim com o amor, você desvia o foco, e quando menos se espera, ele surge do nada. Às vezes, em lugares inusitados, por que não? Amar não está sendo fácil. É como se a cada dia eu tivesse um pouco de poeira para tirar, uma nova coisa para de acostumar. Não estou mais sozinho como antes. Nunca mais quero fechar essa gaveta, nunca mais.

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