quinta-feira, 5 de julho de 2012
O homem frígido.
Desde que eu me entendo por gente, que eu tenho
consciência de que o sexo lidera uma importante parcela de culpa quanto à
felicidade de um casal, independente de gênero ou qualquer outra
particularidade. Em uma sociedade assim, chegar a conclusão de que há a
possibilidade de ser um homem frígido, soa extremamente assustadora. O homem
frígido não faz amor, nem sexo. O homem frígido só faz uma coisa na cama:
nada. Às vezes, tampouco fica a vontade. Quem fica com a tarefa de guiar é o
outro. Certo, existem pessoas que se definem como dominadoras na cama, mas
carregar um pedaço de gelo no colo é totalmente diferente de ter poder sobre a
outra pessoa. O homem frígido – e deixo bem claro que esse texto também vale
para as mulheres frígidas – não quer estar ali. Enquanto solta algumas poucas
palavras ensaiadas, a mente voa longe da cama. Um verdadeiro, e literalmente,
artista. Mas, ao contrário do que muitos possam achar, eu não acredito que isso
seja uma característica, detalhe impregnado na personalidade. Eu acredito em
escolhas erradas. Sexo casual com alguém não tão conhecido é algo que pode
resultar em mãos e pés atados na cama. Daí você me pergunta: Se o cara não vai se entregar, por que
aceitar um convite para uma noitada e nada mais? Coração, meus caros, coração.
Quando gostamos de alguém, a razão é rouca. Nunca fui muito fã de desordem,
sexo antes do casamento (tão comum nos dias de hoje). Nunca acreditei em
lençóis amassados antes do primeiro beijo. O café na cama depois de um sono
pesado, esse sim deve prolongar as coisas. Café na cama de um motel, depois de
um sexo rápido, é fantasia, coisa de momento. Mas a ingenuidade é irmã do
coração esperançoso. Ambas acreditam na ascenção do outro. Ambas acreditam no
certo escrito por linhas tortas. E por mais sentimento que exista, na cama não
sai nada. Amor sem interesse é o mesmo que comprar um bolo de banana porque o
de chocolate acabou: não satisfaz, mas mesmo assim você vai lá e dá uma mordida
porque acha que no final das contas não irá fazer diferença, ou que – inexplicavelmente
– talvez seja mais saboroso. Pior: achando que você se enganará tão bem que
enganará o outro. A constatação da frigidez é inevitável. O toque da boca
quente na perna fria entrega o jogo. Assim mesmo, rápido, sem necessidade de
pistas, assassino localizado. O motivo? O motivo nem tanto, é uma incógnita.
Defendo o frígido porque já fui chamado de um. Não por quem dormiu comigo, mas
sim por estranhos. Na palavra deles: eu tenho a feição de quem não pula do
precipício. Feição de quem fica sempre na beirada do trampolim, com medo de
pular, se entregar. Defendo o homem frígido porque – no meu caso – ele não
existe. Não é frigidez ou preguiça, é saber a hora de desistir. É acreditar que
uma saída casual possa virar um relacionamento formal. Depois dos primeiros
arranhões nas costas, mordida nos lábios, corpo jogado ferozmente sobre a cama,
a razão começa a tomar frente de tudo e a conclusão é só uma: merda, daqui só
vai sair gemidos e saliva trocada. Corpo
esfriando, jogo perdido, mãos colocadas em bolsos de uma calça imaginária,
desistência involuntária: não quero só calorias jogadas fora. O outro perdendo
tempo, diminuindo a velocidade dos atos, menos beijos, menos carinho, menos mão
na coxa: frígido, ele pensa. Posso ser pedra de gelo ou água fervente: cada um
terá de mim aquilo que merece.
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Otimo texto, parabéns!!!
ResponderExcluirMuito obrigado, Rauana.
ExcluirBeijos :-)