quinta-feira, 12 de julho de 2012
Pessoas rasas e pessoas fundas.
Nos domingos não fujo a regra: calorias
provenientes de porcarias, filmes e corpo quase adormecido na cama. Mas quando
se precisa escrever alguma coisa, dificilmente alguma história irá adentrar o
portão da minha casa, bater na porta e percorrer facilmente pelos meus dedos.
Aproveitei o ensejo de ser – praticamente – obrigado a ir a um aniversário, para
tentar colher alguma coisa, pescar qualquer trecho de conversa, acontecimento que fizesse o meu cérebro criativo voltar a funcionar. Para o meu deleite, o
lugar era melhor que a encomenda: piscina, campo de futebol, grama e árvores
por todos os lados. Li um capítulo do livro Um dia [David Nicholls], que é
atualmente meu livro de cabeceira, e resolvi botar um short (visto que esqueci a
sunga) e cair na piscina. Meia hora depois de nadar, sentei na borda e comecei
a observar as pessoas, e também, a própria piscina. Ela, assim como os seres
humanos, está dividida em duas partes: rasa e funda. Rasa: para os
desacreditados, inexperientes, com pouca ambição. Funda: para os otimistas,
tímidos e de altura mais avançada. Bobeira, quem sabe nadar fica na parte funda
e quem não sabe – ou não consegue tocar o pé no chão – fica na parte rasa. A
verdade – e agora, deixando minha criatividade ultrapassar o palpável – é que
há muitas pessoas adultas que nadam na parte rasa da piscina da vida. Não
arriscam com medo de se afogar. Alimentam um medo monstruoso de molhar o
cabelo, de não conseguir tirar a água do ouvido ou agüentar a ardência dos
olhos. E existem aquelas pessoas que simplesmente saltam na água sem saber
nadar. Morrem afogadas, quando não, clamam por respiração boca a boca. Às vezes
se salvam, às vezes não. Assim como nossas branduras e perversidades se
misturam para formar nossa personalidade, precisamos saber à hora de sermos
rasos, e a hora de sermos fundos. Não dá para ser apenas uma coisa ou outra.
Tudo vai depender do momento. É ele quem determina qual é o nosso próximo
passo. Mas cuidado, depois de uma decisão tomada e corpo molhado, na vida –
diferentemente de uma piscina – não existe escadinha na borda. Para toda ação
há uma conseqüência.
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