segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Carta de despedida.

Sinto muito, mas eu só vim até aqui para dizer adeus. Eu queria, Deus sabe como eu queria, mas não dá. Eu não dirigi uma hora de carro para dizer que o problema não é você, ou que sou eu. O problema somos nós, essa é a verdade. É você, porque eu nunca vou me acostumar com o fato de que nós nunca iremos juntos ver um filme no cinema. Sou eu, porque eu nunca vou deixar de ir, mesmo que sozinho. Eu sei, a gente não precisa fazer tudo junto. Você não gosta de cinema, jantar a luz de velas e monogamia. É demais. É algo que eu não consigo fingir que não vejo. Ficar com você seria fugir, seria dizer que eu não gosto de mim como eu sou. Seria renegar minha autoria, minha maneira de escrever. Não vou mudar. Por você, nem por ninguém. Nada do que você diga vai mudar minha posição. Eu sei que você também não vai ceder. Quase oito meses... Por que agora? Não me arrependo de ter te acompanhado naqueles lugares cheios de gente, de ter virados noites em bares e ido trabalhar cansado no dia seguinte. Eu iria aonde você fosse. Você talvez não percebia, mas eu não gostava. A bebida alcoólica que você trazia na mesa e eu bebia, aquilo era renúncia. Cada gota que descia pela minha garganta. E eu renunciaria para sempre. Mas qual o sentido de continuar se só um se doa? Até hoje, você nem tentou sentar comigo no sofá depois do jantar e assistir um daqueles milhares de filmes que eu alugo todo final de semana. Fui tonto, isso não devia ter chegado tão longe, mas a gente sempre tem esperança, não tem? De que as coisas - naturalmente - acabem mudando, e quem sabe se transformando naquilo que a gente esperasse que fosse. Porque no início, eu te juro, eu cheguei a pensar por uma fração de segundos, que tu fosses a pessoa certa. Droga, eu me engano tanto com as pessoas. O mínimo que eu espero parece uma exigência absurda. Cobrar sinceridade parece insano. E eu não quero mais te atrasar, me atrasar. Lá fora, alguém busca por ti. E tu vai encontrar alguém que goste de te acompanhar nos bares todas as quintas, que goste de ir trabalhar cansado no dia seguinte. E essa pessoa vai odiar filmes, vai te acompanhar até a sacada do teu apartamento e dividir uma carteira de cigarro contigo. Lá fora. Aqui dentro não. Aqui dentro, eu, me despeço e despedaço, por que não? A vontade que eu tenho é a de rasgar essa carta e começar tudo de novo. E eu vou começar tudo de novo, mas não com você.

Um comentário:

  1. "Porque ainda que doa, recomeços nos fazem melhor que antes..."

    Liiiindo demais...
    Bjs Att

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