domingo, 28 de outubro de 2012

Quando o "nós" se tornou apenas "eu".

Virando o apartamento do avesso. Limpando cuidadosamente cada pedaço. Cada cantinho da parede. Tentando tirar a mancha de vinho derrubada no nosso último jantar. Os pratos, todos enfileirados em cima do balcão. Sujos. Serviço inacabado, como eu e você. Vinha ignorando, atravessando a sala rapidamente. Sem dar tempo suficiente para lembrar. Não sei de onde veio tudo isso. A insegurança, a vontade de não continuar. Não sei se você conheceu alguém, se sabe de algo que eu não sei, ou se apenas deu o que tinha que dar. Eu vinha deixando pra lá. Sempre adiando lavar os lençóis, encaixotar as poucas coisas que você esqueceu. Pasta de dente, escova de cabelo, um par de meias e o relógio que eu te dei de presente. De repente, não havia ninguém me acordando aos beijos. Ninguém dando bronca por ter deixado, mais uma vez, a toalha molhada em cima da cama. Uma xícara, um prato, uma taça. De um dia para o outro, voltei a ser eu. O "nós" havia saído pela porta há poucos dias atrás. Decidi que não deveria mais lamentar. A única saída era que não tinha saída alguma, a não ser seguir em frente. Lavei os pratos, coloquei seus pertences em uma caixa, e essa caixa atrás de uma porta com outras coisas velhas. Coisas que não tinham mais uso, como você. Objetos que foram esquecidos. Que não servem mais para nada. Que um dia foram importantes, e hoje só estavam ali para fazer volume. Passou um mês, e eu ainda não tinha esquecido. Decidi que era hora de sair. De sair daquele apartamento, de tentar respirar qualquer coisa que não fosse saudade. A dois quarterões dali, te reconheci jantando em um restaurante que costumávamos ir. Você não estava sozinho, e muito menos, parecia estar triste. Ver que eu me importava demais, me deixou extremamente irritado.Agora eu sabia exatamente o porque de você ter ido embora. O que eu sentia por você não era mais saudade, era ódio. Como do sólido ao gasoso, eu só precisava de mais algumas horas até que a raiva se dissipasse no ar. No dia seguinte, joguei a toalha molhada na cama de propósito, e pela primeira vez depois de um ano, foi bom não ouvir alguém reclamar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário