A gente se falava todos os dias, se amava quase que toda
hora, Ana, minha ruína era tua calma. Deitados na minha cama de solteiro, você
não queria mais me deixar, eu não queria mais te largar. Eu te entendia como
Einstein entendeu a ciência, e eu tinha absoluta certeza que Deus tinha te
criado para ser minha. Ana, Ana, eu gritava teu nome baixinho debaixo dos
lençóis, e tua pele tão macia colada na minha, arrepiava os meus sentidos
quando me beijava a nuca. Eu nunca vou te esquecer, sabia? Deixastes a cidade
há mais de um mês, e ainda sinto teu perfume por toda a avenida, aquela que
costumávamos sentar e contar os carros que estavam prestes a capotar. Chupava
os dedos melados de sorvete de limão, e eu me dava inteiro como água pra você
saciar sua sede. Você gostava das mesmas coisas que eu. Separávamos toda a
cebola que víamos misturada ao macarrão, detestávamos carne de fígado, dias
ensolarados, domingos, e se pudéssemos nunca colocaríamos outra roupa se não
nossos pijamas surrados. Terror, romance, mas nada de tiroteio. E todo dia eu
me pergunto o que estaríamos fazendo se você não tivesse partido. Ana, o
presente agora é tão sem graça. E o futuro nunca foi tão esperado. Eu confio em
você aí longe de mim, porque como você mesma me disse uma vez: não há ninguém
como nós dois no mundo. E eu acredito nisso, e eu acredito em você, porque você,
diferente de todas as outras que já conheci, nunca mentiria. Vi no jornal que
aí chove pra caramba. Fica mais fácil não fica? Aqui não chove muito, mas eu
quase não saio, o cinema sem você me faz cochilar, é estranho não ouvir você
sussurrando no meu ouvido. Será que um dia a gente ainda vai conseguir terminar
um daqueles sacos enormes de pipoca? Meu tempo está um pouco corrido, ainda não
terminei minha monografia, por isso a carta vai acabar ficando curtinha mesmo,
assim você não cansa ao ler, né? Saudade da tua preguiça. Me escreve o mais
rápido que for possível.
Com amor, Bruno.
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