terça-feira, 26 de junho de 2012

Guarda-chuva.




Me relacionar com você foi como aprender a andar de bicicleta. Nos primeiros meses: as rodinhas. Você segurando meu banco com uma das mãos, dizendo está tudo bem, se você cair eu te seguro. Cinco meses depois, você já me dava confiança suficiente para tirar as rodinhas, e até arriscar andar sem uma das mãos. Velocidade máxima, sem medo algum de cair no asfalto e ralar todo o corpo. E todo dia eu inventava uma manobra diferente, uma maneira de te surpreender quase que todos os dias. Até que você foi ficando nem aí. Nem aí para minhas habilidades, nem aí para os meus jantares, nem aí para os meus cafunés antes de dormir, nem aí pra nada. De repente, me vi com medo de descer uma ladeira. De repente, eu não sabia mais se, caso eu caísse, você estaria lá para me salvar de uma queda, de machucar as costas, de ralar o joelho. Hoje, vindo para a faculdade, esqueci meu guarda-chuva de propósito, sabia que você levava um consigo na mochila e esperava que as coisas mudassem depois que você me sentisse mais próximo, minha mão direita e a sua esquerda, quase que uma por cima da outra. Como se segurássemos nosso relacionamento, impedindo a água de entrar e acabar com tudo: com os planos futuros, com o que ainda restava de amor, que pelo menos da minha parte ainda persistia em existir. Você começou a tentar explicar de várias formas que não gostava mais de mim, tentando fazer com que eu entendesse da melhor maneira possível que a culpa não era minha e nem sua, ou da outra pessoa que você conheceu dias atrás.

Você dizia que era normal, que as coisas acabam,
que chega um dia que simplesmente chove e a
chuva acaba levando tudo.
Eu gritando, revidava: 
A chuva só leva terra que é fraca,
casa que não está bem fincada.

E completava logo em seguida, antes que você me interrompesse: demora um certo tempo até as nuvens ficarem cinzas, uma chuva torrencial dessas não cai de uma hora para outra. Então, um pingo driblou a proteção - não sei bem ao certo se era pingo ou lágrima - e molhou o meu rosto. Foi quando eu desisti. Foi quando eu preferi parar de discutir. Foi quando eu pulei da bicicleta enquanto descia ladeira abaixo. Eu sabia que iria me esborrachar no chão, mas que seria melhor pular a ter que bater em cheio no muro. Você? Ah, você continuou. Eu fiquei. O corpo todo molhado, esgotado. A alma toda encharcada, dilaceradaComo sempre, em toda história de amor que eu me meto: sou sempre a parte que termina ensopada.

3 comentários:

  1. Texto muito bem escrito! Lamento pelos acontecimentos, pela dor. Um dia para de chover...
    Desculpe gostaria de escrever algo mais consolador... :/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não tem nada para desuclpar, Nato. Elogios ao texto já me servem de consolo, rs.

      Se cuida!

      Excluir
  2. Gostei! Texto de muita sensibilidade. Parabéns!

    ResponderExcluir