quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Mais de uma vez.


Nunca imaginou. Cinco anos depois, e ainda haviam resquícios de amor, raiva, mágoa, tudo misturado. A cada passo que tentava dar, uma queda. Às vezes, pensava: era melhor viver engatinhando. Não haviam mais analgésicos que dessem jeito. Uma nova ferida abrira na cabeça, trocou o freio de trás pelo da frente, pedalava depressa, queda de bicileta. Um mês em coma no hospital. Perda de memória. Reconheceu alguns amigos, os familiares, mas não lembrava de história nenhuma. De amor, tristeza, nada. Reconheceu o outro enquanto atravessava a rua. Seu coração palpitou. Suas mãos começaram a suar. Uma timidez surgiu não sabia de onde. Eram os olhos mais lindos que já havia visto na vida. O porte baixo, a barba por fazer. Usava óculos, é... usava óculos. Parecia vir da academia. Não, da aula de música. É... da aula de... não, ele vinha do trabalho, é, do trabalho. A cada passo que dava, era como se notas de piano soassem na sua mente. Seus olhos assistiram a chuva cair. Ele continuava indo, assim mesmo, devagarzinho. O sinal já havia fechado, os carros buzinavam. O outro ria. Não sei de quê, ou de quem. Olhou para os seus sapatos, estavam desamarrados. Ele riu também. Agora os cadarços estavam sujos de lama. Quando chegou do outro lado, reconheceu o outro, parecia familiar. Amor antigo, de cinco anos atrás. Apertaram as mãos um do outro rapidamente e se despediram. Virou para a direita, olhou para o outro e pensou: onde você estava que nunca tínhamos nos esbarrado antes?

Um comentário:

  1. "(...) Virou para a direita, olhou para o outro e pensou: onde você estava que nunca tínhamos nos esbarrado antes?"

    Já me fiz esta pergunta várias vezes e diante de situações diversas, com pessoas diferentes e em momentos distintos.

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